domingo, 29 de agosto de 2010

Encrenca


Conheço ele na casa de uma amiga. São ao todo oito homens solteiros, felizes e solícitos. Mas ele, estranho, reservado e tentando há horas estabelecer uma conversa com o gato da casa, me chama a atenção. Aquele alí é…? Xiii, Bruh , encrenca. Mesmo? Tem certeza? Absoluta. Encrenca das grandes. Não me dou por satisfeita. Preciso saber mais. Descubro que ele já saiu com a irmã de um grande amigo. Na segunda ligo pra ele. E sua irmã? Casou. Mesmo? Foi. Mas e o…? Xiiii, Bruh , encrenca. Mesmo? Nossa, bota encrenca nisso. Das grandes, amiga. Certeza? Posso confiar? Pode. Sei bem o que tô te falando. Mas se você estiver com dúvida, sabe a Ana? Então, a prima dela já saiu com ele. Jura? Juro. Na terça ligo pra Ana. E sua prima? Ah, menina, toda feliz, morando em Londres. Mas ela já saiu com o…., não saiu? Xiiiii, nossa, nem fala esse nome pra ela, nossa, EN-CREN-CA. Das bravas. Das grandes. Mesmo? Olha, tô pra ver encrenca maior. Mas se você tiver com alguma dúvida, o Beto, sabe o Beto? Foi chefe dele. Na quarta ligo pro Beto. E, aí, cara? Tudo certo? Certíssimo. Tô grávido do segundo moleque. Que beleza. Mas me fala, você já foi chefe do…? Menina, nem me lembra disso. Uma puta encrenca, viu. Olha, prefiro nem tocar nesse assunto. Mesmo? Sério. Mas olha, quem pode te falar melhor é o Dr. Ricardo. Tratou ele ano passado. Mesmo? Ele foi no Dr. Ricardo? Pra você ver o tamanho da encrenca. Na quinta ligo pro Dr. Ricardo. Sei como são essas coisas de discrição médica. Mas…e o…? Bruh , não vou te falar nada, é antiético, você entende, né? Mas como você é minha amiga, vou te falar só uma coisa: o cara é a maior encrenca da cidade. Talvez do país. Mesmo? Mesmo. Mas se você tiver com alguma dúvida, minha irmã mais velha, a Fabi, fez faculdade com ele. Na sexta ligo pra Fabi. E aí, gata? Menina, quanto tempo! Faz mesmo. E você? Algum paquera novo? Sim, tô noiva! Jura! Juro! Mas e o…ouvi dizer que vocês estudaram juntos já. Ah não! Esse assunto não! Pô, mó vibe. Bruh , olha, esse cara redefiniu pra mim o conceito de encrenca. Manja “A” encrenca. Então. Mas se você tiver alguma dúvida…não, não tenho mais dúvida nenhuma. Chega. Já ouvi tudo o que eu precisava. No sábado ligo pra ele, coração disparado, não é sempre que encontramos alguém tão bem recomendado.


[ Tati Bernardi ]


-Mudei só os nomes né, não vou deixar o nome da Tati, tá certo que ela é foda, mas o texto tá no meu blog poxa!....haha.

Medo


“ Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada.
Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade.
Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente,
de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca.
Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa.
Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo.
Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente.
Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus agüentam uma reza por mais de duas horas.
Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve.
Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida.
Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança,
medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar.
Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer.
Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta.
Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta,
medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer,
talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado.
Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo.
O corpo mais lado da fraqueza. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado.
Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente.
Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam.
Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém,
nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele.
Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas.
Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar,
que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz.
Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz.
Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas.
Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção.
Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você.
Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira.
Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar.
Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo.
Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego.
Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade.
Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele.
Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade.
Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida.
Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito.
Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar.
Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram.
Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar.
Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já estar apaixonada.”

(Fabrício Carpinejar)

sábado, 28 de agosto de 2010

Achei, achei! O melhor texto do mundo!



Vivo ou morto. Meu reino por um homem interessante.

Não sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação aos finais de semana já desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas com metade da minha idade e do meu bom senso. Nada contra adolescentes, muitos deles até são mais interessantes e vividos do que eu, mas to falando dos “fabricação em série”. Tô fora de dançar os hits das rádios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo assim, gata, iradíssimo, tia. Tinha me decidido a banir a palavra “balada” da minha vida e só sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult desses que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos. Mas a verdade é que por mais que eu ame minhas amigas, a boa música e um bom filme, meus hormônios começaram a sentir falta de uma boa barba pra se esfregar. Já tentei paquerar em cafés e livrarias, não deu muito certo, as pessoas olham sempre pra mim com aquela cara de “tô no meu mundo, fique no seu”. Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a pensar “se são meus amigos, logo, devem ter amigos interessantes”. Infelizmente essas festinhas são cheias de casais e um ou outro esquisito desesperado pra achar alguém só porque os amigos estão todos acompanhados. To fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma. Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que exibem a chave do Audi to mais do que fora, baladas playbas com garotas praianas hippye-chique que falam com voz entre o fresco e o nasalado (elas misturam o desejo de serem meigas com o desejo de serem manos com o desejo de serem patos) e rapazes garoto propaganda Adidas com cabelinho playmobil também to fora. O que sobra então? Barzinhos de MPB? Nem pensar. Até gosto da música, mas rapazes que fogem do trânsito para bares abarrotados, bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram “tristeza não tem fim, felicidade sim” no ombro do amigo, têm grandes chances de ser aquele tipo que se acha super descolado só porque tirou a gravata e que fala tudo metade em inglês ao estilo “quero te levar pra casa, how does it sounds?” Foi então que descobri os muquifos eletrônicos alternativos, para dançar são uma maravilha, mas ainda que eu não seja preconceituosa com esse tipo, não estou a fim de beijar bissexuais sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo. To procurando o pai dos meus filhos, não uma transa bizarra. Minha mais recente descoberta foram as baladinhas também alternativas de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar bacana, estilo bacana, papo bacana… gente tão bacana que se basta e não acha ninguém bacana. Na praia quem é interessante além de se isolar acorda cedo, aí fica aquela sensação (verdadeira) de que só os idiotas vão à praia e às baladinhas praianas. Orkut, MSN, chats… me pergunto onde foi parar a única coisa que realmente importa e é de verdade nessa vida: a tal da química. Mas então onde Meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante? O tempo está passando, meus ex já estão quase todos casados, minhas amigas já estão quase todas pensando no nome do bebê,… e eu? Até quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindo a mais idiota de todos? Foi então que eu descobri. Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredon lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito. A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa. Não é triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?
[Tati Bernardi]


Fico quieto.

Primeiro, que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar aos sete ventos, dá errado.
Isso porque ao contar, a gente tem a tendência a embelezar a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica, é isso que quero dizer, e pensando mais longe, por isso mesmo literatura é sempre fraude. Quanto mais não-dita, melhor a paixão. [Caio F. ABreu]